“Ele sempre gostou de ciência, inventava essas experiências”
Frazão na infância e na adolescência

Frazão, no canto esquerdo, com seus irmãos Arthur Augusto, Ângela e Júlio Cezar.
Como vive uma criança curiosa que vai se tornar um cientista? Quais são os seus primeiros interesses por plantas, a semente do futuro pesquisador? Em 25 de novembro de 1953, em Santarém, no Pará, nasceu Antônio Augusto Brandão Frazão. Aquele menino que seria conhecido no futuro como professor Frazão, foi o filho mais velho de seis irmãos do gerente de banco Augusto Enéas Pereira Frazão e da dona de casa Maria Henriqueta Brandão Frazão.
Na infância, gostava de passar horas brincando ao ar livre e explorando o mundo ao seu redor, enquanto já manifestava interesse pela ciência. Inteligente, mesmo com pouca idade, se destacava pela sua sede de conhecimento e a sua curiosidade o levava a questionar o funcionamento dos fenômenos da natureza.
Antônio tinha quase três anos quando sua irmã Ângela Augusta nasceu. Ele a chamava de “boneca linda”, o que lhe parecia dar o direito de a tirar do berço, recém-nascida, para brincar. De acordo com Ângela, Antônio Frazão era muito destemido e se escondia atrás das portas para caçar osgas ou outros bichinhos. Pegava as criaturas nas mãos e sempre ia “mostrar sua coragem à mamãe", como relata.
O grande quintal na casa onde moravam, era a selva para Antônio e Ângela. Ele, Tarzan, ela Jane, e o pastor alemão da família, chamado Netuno, era o leão que Antônio Frazão sempre salvava. “Era meu protetor e companheiro”, afirma Ângela. Para que as crianças não se aproximassem de um poço que havia no quintal, os pais diziam que lá vivia a Mãe D'água, ou Iara, que puxava para dentro quem nele se debruçava. Antônio não deixava sua irmã mais nova chegar perto, porque acreditava na lenda, mas ela sempre teimava e queria conferir.
Ângela conta que tinha certo medo de Netuno, já que para o tamanho deles, o cachorro era muito grande. Antônio pedia que a irmã se escondesse e soltava o cão para que ele pudesse salvá-la da “fera”, que só obedecia ao menino. “Ele se achava o máximo por isso”, recorda. Outra brincadeira comum envolvia um carro de brinquedo tipo jipe que pertencia ao irmão. “Ele corria pelos corredores da casa o dia todo e eu correndo atrás, ou na garupa”, lembra Ângela.

Frazão, na infância, com os trajes feitos por sua mãe e avó.
Mas, quando se aborrecia com a irmã, Antônio a chamava de “boneca linda feia”, o que, para ela, era um grande xingamento. Ângela também descreve algo muito marcante e talvez até “traumatizante no bom sentido”: os trajes que sua mãe e sua avó, que costuravam muito bem, faziam para eles vestirem. Ela, com vestidos bordados, mangas bufantes, sapatos de verniz e grandes laços no cabelo. Ele, de terninho branco de linho e gravatinha. “Éramos sempre as crianças mais lindas, mas nos impedia de brincar e reclamávamos muito”, conta Ângela, entre gargalhadas.
Aos seis anos, Antônio já ia para escola e sua irmã chorava muito, porque queria ir também. Quando ela entrou no Jardim de Infância, aos três anos, passou a ser acompanhada pelo irmão, que, de acordo com Ângela, “vigiava com muito orgulho sua maninha”. O pai das crianças, Augusto, trabalhava muito, era gerente do Banco do Brasil e sua mãe, Maria Henriqueta, sempre nas tarefas da casa e cuidando dos outros filhos já nascidos, Artur e Júlio Cezar.
Os avós maternos moravam na outra esquina da casa da família de Antônio Frazão e tiveram grande participação na infância dos netinhos. Faziam todas as vontades e encobriam as artes de Antônio para ele não ser castigado pelos pais. Como qualquer outra criança, Antônio tinha uma turminha que jogava bola, empinava papagaio, brincava de bolinha de gude, mas sempre sob a vigilância dos seus avós, por estar em frente à casa deles. Ângela menciona que eles levavam os irmãos para banhos de igarapé e outros passeios no seu jipe de adultos, que para aquela época era bem moderno.
A família ficou em Santarém (PA) até Antônio completar dez anos e sua irmã Ângela sete, quando o pai foi transferido para São Luís (MA), em 1964. Antônio estudou no colégio Marista, na capital maranhense, e lá viveu muitas histórias. Moravam em uma casa onde ele tinha seu quarto próprio no andar de cima. No banheiro que seria das crianças mais novas, ele criava peixes e sapos na banheira. “Ele sempre gostou de ciência, inventava essas experiências. Os sapos que sofriam nas mãos dele. Fazia cirurgia nos bichos, isso eu lembro bem. O banheiro era seu laboratório, fazia muitas misturas e ninguém podia entrar”, conta Ângela.

Frazão, no centro, ao lado de seus irmãos Arthur e Ângela.
Nessa casa passaram boa parte da infância e adolescência. Ângela tinha o seu quarto e o mantinha “bem arrumadinho”, havia bastante espaço para ela organizar as bonecas. Mas Antônio sempre dava um jeito de entrar e desarrumar tudo. “Ele era muito bondoso, mas muito peralta, daqueles que provocam e tiram o corpo fora. E eu, mesmo sendo menor, o enfrentava”. Como os outros irmãos eram bem mais novos e não brincavam com Antônio, a sua distração era provocar brigas entre eles e inventar histórias sobre fantasmas e criaturas mitológicas, como o Mão-Cabeluda, que as crianças acreditavam e se apavoravam.
Sua irmã menciona que durante a infância, foi Antônio que revelou para ela que Papai Noel não existia, o que a deixou “muito triste e decepcionada”. Naquele período, em uma noite de Natal, ela recorda que Antônio resolveu dormir na rede e fez um buraco para ficar vigiando a chegada, porque seus pais diziam que Papai Noel só aparecia para colocar os presentes quando as crianças estavam dormindo. “Ele resolveu fingir, mas não deu certo, porque dormiu”. Logo que foi desmascarada a inexistência do Papai Noel, os irmãos mais velhos passaram a ser os distribuidores dos presentes aos irmãos menores.

Frazão e sua irmã Ângela, em sua primeira moto, uma lambreta.
Os irmãos tinham uma coleção de papagaios, ou pipas, e de bola de gude. Na época do bonde, a família morava próximo da Rua da Paz, onde eles passavam. Antônio catava vidros para colocar nos trilhos e, após esmagá-los, usava para fazer cerol. Depois estendia os fios encerados pela casa toda até secar, enquanto a irmã ficava próximo e o assessorava.
Ângela narra que Antônio, com sua mania de criar, fabricou um foguete ainda criança, para ser lançado no Parque do Bom Menino. Na ocasião, até uma emissora de televisão apareceu para filmar o acontecimento. Ângela diz não saber como a equipe descobriu a façanha do irmão, que acabou atraindo muitos telespectadores. “O foguete subiu, com muita euforia de todos. Mas não demorou muito, caiu, o que o deixou decepcionado, mas deu certo”.
Quando Antônio tinha 15 anos, em 1968, ele e a irmã mais velha foram convidados para um aniversário de debutante de uma amiga, onde, em cada mesa, havia uma garrafa de whisky. Ângela cita que em uma mesa ficaram ele e os amigos que se achavam adultos o suficiente para secarem a garrafa. “Lembro que quando chegou a hora de ir embora, os rapazes estavam todos bêbados e o Antônio foi vomitando até chegar em casa”. Esse ocorrido serviu para Antônio fazer uma promessa de nunca mais colocar uma gota de álcool na boca. “Foi o que aconteceu. Até no seu casamento, ele fingiu que bebeu a champanhe do brinde, só para festejar”.
A família morava no Monte Castelo, em uma avenida hoje muito movimentada em São Luís. Naquela época era um bairro residencial com excelentes vizinhos, muitas crianças e adolescentes e de lá Ângela afirma que “tem muitas recordações”. Antônio vivia inventando arte com os amigos, inclusive jogar War e Banco Imobiliário no meio-fio, debaixo do poste, bem em frente da casa onde residiam. “Nós, as irmãs, ainda levávamos lanche pra eles”.
Já com 18 anos, em 1972, Antônio resolveu comprar uma lambreta e, segundo a irmã, foi um “sucesso”. “Mamãe tinha dito que moto não entrava em casa e ele falou que não era moto e sim lambreta”. Mas não demorou muito, porque a mãe de Antônio não o deixava sair de casa com ela.
Sempre assumindo o posto de irmão mais velho e protetor, Antônio continuou assim quando acompanhava a irmã nas festinhas, queria escolher com quem ela poderia dançar. Mesmo depois, quando começaram a frequentar as boates, ele dizia: “Quando vierem te tirar para dançar, só vai se eu não baixar a cabeça”, descreveu a irmã. Esse excesso de proteção só melhorou quando ele começou a namorar e deu uma folga para ela.
Ângela reforça que ela e Antônio Frazão sempre permaneceram muito unidos mesmo na vida adulta, com ele morando distante. “Ele me ligava todos os dias e eu o chamava de Zé da Rede. Porque sempre quando ligava por videochamada, ele estava balançando na rede, que era seu lugar preferido.”

Frazão, com um ano, no velocípede que ganhou de presente.
