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“Fomos nos aproximando aos poucos e nossa amizade evoluiu para um relacionamento amoroso”
A trajetória de Luísa e Antônio

Luísa e Frazão

Frazão e sua esposa Luísa, desfrutando da paz e da beleza da praia do Rio Tocantins, em Imperatriz.

Na juventude, Frazão cruzou o caminho de sua futura esposa, Luísa Frazão, no colégio. Um encontro que mudou suas vidas para sempre. Naquela época, 1972, Luísa tinha 15 anos e estava paquerando outro rapaz. Era uma jovem com seus próprios interesses e envolvida com um grupo de amigos. Frazão estava com 18, tinha outro namoro, mas, apesar de pertencerem a círculos sociais diferentes, logo encontraram uma conexão. "Fomos nos aproximando aos poucos e, com o tempo, nossa amizade evoluiu para um relacionamento amoroso", revela Luísa.


A vida de Luísa teve início no Rio de Janeiro, onde morava com sua família.  Após o falecimento de sua mãe, ela deixou o Rio e se mudou para o Maranhão. Seu pai, um militar, já havia passado por diversas cidades ao longo de sua carreira, e essa mudança ocorreu em 1969, um ano que ficou gravado na memória de Luísa.


O encontro com Antônio Frazão ocorreu graças a uma rede de conexões, que incluía amigos, primos e, principalmente, um grupo de amizades em comum no tempo da escola. “Assim que nos conhecemos, nos gostamos e, naturalmente, começamos a namorar nessa época, de 1972”, relembra Luísa. Esse namoro marcou o início de uma jornada de amor e companheirismo que perdurou por quase 50 anos, tornando-se uma parte essencial da vida de Luísa e Antônio.


Na ocasião em que conheceu o seu futuro marido, ambos eram estudantes. “Ele fazia, naquela época, o científico, que agora é o ensino médio. Ele estudava no Colégio Marista, e eu fazia o científico no Santa Teresa”, contou a viúva. O Santa Teresa, na época em que Luisa era estudante, era uma escola de freiras, ainda é, mas naquele tempo era apenas para meninas. Já o Marista era uma escola de padres, destinada aos meninos.


Frazão e Luísa começaram a construir uma história de amor a partir do cinema, onde tiveram o primeiro encontro do casal, assistindo ao filme Girassóis da Rússia, original de 1970. “Nós fomos ao cinema assistir a esse filme, na época em que as cadeiras do cinema eram de madeira. Ele foi me buscar em casa. Nessa época, ele dirigia uma Kombi que o pai dele tinha, e a gente foi de Kombi ao cinema”, relembrou, nostálgica.

Luísa e Frazão

Frazão, celebrando seus 60 anos, trocando um carinho com sua esposa em um momento especial.

Foi ali que Frazão perguntou se Luísa aceitava namorar com ele, assumindo que gostava dela. “A gente começou a namorar nesse dia 6 de maio de 1972.” Ela relata que não houve um pedido oficial, por parte de Frazão, para seu pai. “Eu mesma informei ao meu pai que tinha começado a namorar.” Não foi necessário agir com nenhuma formalidade, pois eles faziam parte do mesmo grupo de amigos e Frazão já frequentava a casa dela, mantendo uma relação de amizade entre as famílias.

O casal vivenciou as fases namoro e noivado muito intensas e só se casaram no dia 13 de junho de 1978, ainda jovens. Luísa tinha 22 anos, e ele faria 25, em novembro. “No dia 6 de maio tínhamos completado sete anos de namoro. E a gente nunca teve essa pressa, na verdade, de casar”, revelou Luísa. Mas, segundo ela, naquele momento já tinham segurança. “Nós já éramos noivos, porque houve toda a formalidade do noivado um ano antes, quando ele chegou com a mãe e o pai dele lá em casa. Ele me pediu em noivado para o meu pai, com toda a colocação da aliança”, relembrou.

Luísa e Frazão

Frazão e sua esposa, nos Lençóis Maranhenses em 2020.

Luísa e Frazão

Frazão e sua esposa, no Arraiá da Mira em Imperatriz.

De forma nostálgica, Luísa recorda que ambos, quando jovens, achavam a profissão de médico a mais bonita. “Acabou que ele não conseguiu entrar para medicina. Naquela época, não havia as facilidades que existem hoje, essa gama de oportunidades que os alunos têm. Era somente o vestibular, e ele não conseguiu”, relatou. No entanto, Frazão conseguiu uma vaga no curso de Química, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus de São Luís, e foi se apaixonando pelo que aprendia na graduação.

Luísa destacou que ele se formou em química industrial e, a partir do que aprendeu, acabou desenvolvendo interesse pelo estudo das plantas. “Ele já tinha uma certa sintonia com plantas, com medicamentos. Eu acho que isso tudo, com o amadurecimento dele na própria profissão, o levou a esses estudos”, acredita.

Os primeiros anos do casamento deram como frutos quatro filhos, sendo três Anas, Carolina, Flávia e Paula, além de um Antônio, Carlos. Em 1992, quando Frazão atuava como professor de cursinho pré-vestibular em São Luís, ele recebeu um convite que marcou o início de uma nova jornada em sua vida profissional. O dono do Colégio Meng, para o qual ele trabalhava, propôs que ele ajudasse a implantar uma filial do estabelecimento de ensino em Imperatriz.

“Na verdade, a paixão dele pelo ensino sempre foi cursinho. Ele se sentia realizado dando aula”, revelou Luísa. Esse empenho se dava pela motivação dos alunos. “Ele gostava de dar aula para quem tinha interesse mesmo em aprender”, acrescentou. Quando a família se mudou para Imperatriz, os quatro filhos já haviam nascido e a filha caçula tinha um ano. “Aqui [em Imperatriz] as coisas aconteceram”, disse Luisa.

Segundo ela, as decisões de adotarem outros filhos ao longo do relacionamento, que chegaram a cinco no total, ocorreram de forma bem natural. A  primeira adotada foi Flávia, com cinco anos. “Não houve uma busca nossa da gente conversar e planejar a possibilidade da adoção”, explica. Luísa conta que conheceu a história da menina em  um aniversário de uma pessoa que era massagista do seu pai, que acompanhou a família a Imperatriz por estar doente após ter sofrido um derrame.

“Nos convidaram para um aniversário, eu fui, levei as crianças, nós fomos. Lá eu conheci a história da Flávia, que era uma menina de cinco anos, que a mãe não queria”. Comovida pela história, aquela situação incomodou Luísa. “Cheguei em casa, conversei com ele: ‘Eu conheci uma menina assim’. Ele respondeu: ‘Então vamos buscar pra cá’”. De acordo com Luísa, Frazão sempre a apoiou nas situações inesperadas.

Frazão e família

Frazão, em um momento de lazer com a família na Praia do Bianor.

O segundo filho adotado envolveu uma história mais inusitada. Luísa estava viajando para Palmas, e, nesse meio período que estava ausente, alguém colocou um  bebê na porta da casa do casal. “Dentro de uma banheirinha, eram 23 horas. Só tava ele e as crianças em casa, tocaram a campainha. Ele ia lá no portão, não via nada. O portão era distante, assim, tinha um muro, a gente morava nessa época no Bacuri”, detalha. Foi só quando a pessoa que deixou o bebê tocou a campainha a segunda vez é que ele notou a criança.

“Eu tava vindo de Palmas pra cá. Quando eu cheguei no outro dia, o Luís já estava lá em casa. Já tinha movimentado os amigos, todo mundo já tinha ajudado a cuidar desse bebê”. O novo membro da família Frazão era recém-nascido, ainda estava com o enxoval da maternidade e a informação do nome da mãe dele. Mas, o bebê veio a óbito com dois anos e sete meses. “Nós tivemos um baque na nossa vida, com o falecimento do Luís. Ele chegou em 1996 e faleceu em 1999”, relata, com profunda tristeza.

Logo em seguida veio Luan. Uma amiga de Luísa, que morava em Açailândia, ficou sabendo que a mãe não queria a criança. “Perguntou pra mim se a gente aceitava cuidar desse bebê, a gente se colocou favorável a cuidar”. No entanto, Luísa revela que eles não queriam criar expectativa, já que, na hora que nascesse, a mãe poderia vir a mudar de ideia.

“Mas aí nós estávamos lá, tranquilas. A Ana Paula estava esperando o primeiro filho dela, que era nossa primeira neta, quando nós recebemos a notícia que tinha nascido e que a mãe não queria realmente”. Mais uma prova de que as adoções na família Frazão ocorriam de forma natural.  “Simplesmente chegava, a gente acolhia”.

A vida de Luísa se cruzou com a de mais um filho adotivo quando trabalhava em um abrigo de crianças e adolescentes vítimas de violência. “Gabriel era um bebê que a mãe abandonou no Hospital Regional. Ele foi para o abrigo e do abrigo está aqui com a gente, já tem 18 anos”. Luísa destaca que todos os filhos adotados sabem de suas respectivas histórias e nenhum tem problema em relação a isso. “Eu acho que é um direito da criança saber de onde veio. Mesmo que eu não saiba quem é o pai, quem é a mãe, mas pelo menos eles sabem a história, como chegaram até aqui em casa”, frisou.

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Em 2020, nos Lençóis Maranhenses, Frazão celebrava o que sempre considerou seu maior orgulho: sua família.

Ana Paula Frazão, filha do casal, revelou que o pai era muito família. “Era aquele paizão, aquele vovozão, aquele marido brincalhão do jeito que ele era nas escolas, nos cursinhos”, define.  Luísa completa: “Aqui em casa também, pegava no pé desses meninos direto para brincar, ele era super família”.

Outra questão que chamava a atenção dos familiares era que Frazão não abria mão de ter bastante tempo reservado para  estudar as plantas medicinais. “Gostava muito de fazer esses estudos, com química. Se dedicava muito ao laboratório da UEMA [Universidade Estadual do Maranhão]”. Ana Paula relembra que as plantas foram a paixão da vida dele, as quais se dedicou muito às pesquisas. A pesquisa que tornou Frazão mais notório envolveu a criação de uma pomada da folha de graviola, que ele afirmava ter efeitos cicatrizantes.

Mas além disso, frequentemente gostava de pesca, andar de barco e moto. “Vivia pelo rio, passeando nesse barco. Depois foi para essa moto”, disse Luísa. Também participava de um grupo de motoqueiros e gostava de perambular com os companheiros.  “Nunca fui assim favorável a moto, não me sentia bem, me sentia muito insegura”, confessou Luísa.

Como ela  não gostava de andar de moto, ele tirou a garupa do veículo. “Então ninguém andava de garupa com ele. No começo, Ana Paula ia, Flávia ia, mas ele sempre ficava me chamando, me chamando”. Sua filha, Ana Paula, complementa dizendo: “Aquilo que ele não conseguia incluir, mamãe ou a gente, ele não deixava”. Ana Paula expõe que Frazão agia dessa forma com tudo na vida. As duas relembram que Frazão esperava todos os filhos e a esposa às 12h, para almoçar com a família reunida. São esses os  momentos que ficaram nas suas memórias.

REPORTAGEM

Tayná Duarte


DIAGRAMAÇÃO E MONTAGEM

Tayná Duarte e Rubem Rodrigues


IMAGENS

Arquivo Pessoal, Daniel Sena, Edmara Silva, Fernando Cunha,

TV Difusora (afiliada do SBT) e Globoplay

ESTE TRABALHO FOI ELABORADO COMO PARTE DA CONCLUSÃO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO DO CENTRO DE CIÊNCIAS DE IMPERATRIZ (CCIM), SOB A ORIENTAÇÃO DO PROF. DR. ALEXANDRE MACIEL.

12 de fevereiro de 2025

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